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terça-feira, 29 de junho de 2010

O Brasil na mira do mercado de luxo

São Paulo assume o posto de capital do segmento na América Latina, deixando Buenos Aires para trás

 

O Brasil desperta a atenção do mercado de luxo. Marcas internacionais voltam-se para o país, que, a cada dia, mostra porque merece destaque na América Latina. Ao lado do México, o Brasil passa a frente de nações que ficaram no passado, como é o caso da Argentina, e apresenta um crescimento superior ao de economias como Chile e Panamá, que ampliam seus negócios de forma estável, mas não têm o potencial de consumo dos brasileiros.
O interesse pelo país é tanto que o começo de julho marcará a primeira vinda do Grupo PPR ao Brasil, um conglomerado que conta com marcas como Puma, Fnac e o Grupo Gucci em seu portfólio. Junto com a MCF Consultoria e Conhecimento, os executivos das companhias iniciarão um trabalho para entender o mercado brasileiro.
“Todas as análises mundiais apostam que a média de crescimento no mundo esse ano não passará de 1,5%. No Brasil, alguns dados apresentam aumento de até 6%. A médio e longo prazo, o país é um dos poucos que promete um resultado expressivo nos próximos anos”, aponta Carlos Ferreirinha (foto), Presidente da MCF Consultoria & Conhecimento, especializada nas ferramentas de gestão e inovação do Negócio do Luxo e Premium, com atuação no Brasil, América Latina, Portugal e Angola.
Buenos Aires fica no passado
Traçando um panorama na América Latina, a Colômbia aparece como um dos pólos com expansão surpreendente. Depois do Brasil e do México, por exemplo, o país é o terceiro mercado de crescimento latino-americano para a italiana Salvatore Ferragamo. Já a gastronomia peruana invadiu a América Latina. As marcas de luxo, no entanto, querem entrar no país, mas, apesar do potencial de consumo dos peruanos, não encontram shoppings ou ruas adequadas para se instalarem.
O Panamá é outro país que tem chamado a atenção do segmento. Colombianos e peruanos são consumidores importantes na região, que conta atualmente com um dos mais imponentes shoppings da América Latina, o Multiplaza Mall. No caso do Chile, o crescimento é contínuo, mas a dimensão pequena do país faz com que qualquer incremento expressivo ainda dê um resultado pequeno.
A Argentina, por sua vez, perde espaço entre as marcas. “A Armani não fecha lojas, mas encerrou sua operação em Buenos Aires, que já foi considerada a capital do luxo na América Latina. O mesmo acontece com a Venezuela. Até dois anos atrás, o país era um dos maiores consumidores de Veuve Clicquot e Johnnie Walker, mas começou a cair nos últimos meses. A Louis Vuitton, por exemplo, fechou loja na Venezuela”, explica Ferreirinha.
 Investimento a médio e longo prazo
O cenário deixa claro o potencial de consumo no mercado brasileiro. Enquanto outros países latino-americanos apresentam uma, ou até duas, cidades de destaque, por aqui há um grande número de oportunidades. São Paulo desponta como a capital do luxo da América Latina, procurada por grandes marcas e com empreendimentos como o Shopping Iguatemi (foto), um dos metros quadrados mais importantes do varejo mundial.

Fazendo um estudo de democracia de consumo expandido, além da capital paulista, o país é o único na América Latina a destacar o potencial de cidades como Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Recife, Belo Horizonte e Salvador, entre outras, inclusive no interior. “O Brasil é o único país que possibilita expansão de dimensão geográfica para marcas internacionais que operam na América Latina. O investimento no luxo é de médio e longo prazo e as organizações olham dessa maneira. O Brasil se mantém em posição privilegiada”, diz Ferreirinha, também articulista do Mundo do Marketing.
Para aproveitar este potencial, as marcas precisam entender as características do consumidor latino-americano, especialmente as do brasileiro. Por aqui, o cartão de crédito aparece como um dos principais elementos de diferenciação do comportamento de consumo. A possibilidade do parcelamento faz com que o cliente, muitas vezes, não encare o preço total do produto, mas sim o valor que será pago mensalmente.
Impostos são obstáculo
Essa possibilidade faz com que haja confusão sobre quem é este consumidor, sendo imprescindível um conhecimento comportamental, muito além do estudo demográfico. O desejo aspiracional também é uma constante e as grandes marcas têm muito espaço para crescer, já que ainda são as mais valorizadas pelos brasileiros. Outro ponto importante é a exigência pelo melhor serviço possível.
“Somos arrogantes no conceito profissional. Exigimos excelência. É só olhar para as instituições financeiras brasileiras, como Prime e Personalité. Além disso, qual hospital no mundo tem apartamentos de 180m², como o (Albert) Einstein? Ninguém se interna. Se hospeda. Isso gera uma demanda singular por prestação de serviço”, ressalta o Presidente da MCF.
Os impostos, entretanto, são o principal obstáculo para as empresas de luxo no país. Com as altas taxas, as operações brasileiras têm virado uma espécie de vitrine para as próprias marcas internacionalmente. A cada 10 calças da Diesel vendidas para um brasileiro no mundo, por exemplo, duas foram compradas por aqui e oito no exterior.
Vestuário tem incremento de até 120%
O mesmo acontece com a Montblanc. Se antes, a cada 10 produtos levados às lojas brasileiras para serem personalizados, oito eram comprados no Brasil e dois lá fora, hoje, há uma inversão. Segundo a própria empresa, entre 10 canetas levadas às lojas Montblanc brasileiras, sete foram adquiridas internacionalmente.
De acordo com uma reportagem publicada pela revista Época, um carro que, em média, custa R$ 45 mil nos principais mercados mundiais, sai por R$ 75 mil no Brasil. No setor de vestuário de luxo, o incremento de impostos é de 80% a 120%. Já no caso das jóias, os valores crescem entre 28% e 44%.
Contudo, apesar da viagem ser o principal concorrente para as empresas que atuam no mercado nacional, ainda há consumidores dispostos a pagarem preços acima da média. “Tem um grupo que compra por impulso, porque não quer esperar até viajar. Outro porque não viaja com frequência. Há também quem não tenha análise comparativa e, por último, uma parcela enorme que divide as compras no cartão de crédito”, aponta Ferreirinha.
 Copa e Olimpíadas valorizaram imóveis no Rio
A expectativa de crescimento para os próximos anos foca, principalmente, os segmentos de carros e imóveis, os primeiros investimentos a serem levados em conta pela classe média aspiracional. Também terão forte expansão os setores ligados a turismo, estilo de vida e experiências.
A escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos, em 2016, será um dos principais responsáveis pela valorização do turismo. Porém, o que pode ser entendido como oportunidade é também um obstáculo. Desde o anúncio do país como sede dos eventos, nada mudou no Rio de Janeiro, mas o preço do metro quadrado na capital tem disparado.
Segundo o New York Times, o Rio é o segundo ponto mais caro das Américas, alinhado a Washington, São Paulo e Miami, e perdendo apenas para Nova York. A capital carioca é também a terceira cidade do mundo com maior crescimento de valor de incorporação imobiliária, atrás de Tóquio, Roma, Pequim e Paris. “O problema é que quando uma marca quer expandir no Rio não há como negociar, porque os valores são muito altos”, conta Ferreirinha.
Mais confiança, mais consumo
Mas a vinda do campeonato mundial de futebol e dos jogos olímpicos ao Brasil promete impulsionar a economia. A expectativa é de que, até 2014, US$ 100 bilhões sejam investidos no país. De acordo com uma pesquisa feita pela Kantar WorldPanel, o consumo da classe média brasileira deverá crescer 17% nos próximos anos. Junto à expansão do poder de compra, aparece o otimismo do brasileiro.
Um estudo feito pela Cetelem em parceria com a Ipsos indicou que, de 2005 para 2010, o otimismo do consumidor brasileiro passou de 20% para 40%, enquanto o entusiasmo saiu de 6% para 13%. Por outro lado, o índice de preocupações em 2005 era de 58%, enquanto este ano o valor registrado foi de 30%.
“Quanto mais otimismo, mais o consumidor compra. Ele precisa estar confiante para consumir. Estes dados indicam que, cada vez mais, o brasileiro vai se aventurar pelo consumo por prazer e não por necessidade e as marcas precisam estar atentas a isso”, declara Ferreirinha.
* Com reportagem de Bruno Mello.
Fonte: http://www.mundodomarketing.com.br/9,14758,o-brasil-na-mira-do-mercado-de-luxo.htm 

 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

COMUNICAÇÃO COM O MERCADO





É um péssimo cozinheiro aquele
que não pode lamber os próprios dedos.
Willian Shakespeare

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Não é o que você faz, é o que o seu cliente busca, quer, deseja, almeja, procura e quer.
Esse é que é o foco da sua mensagem.
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O nosso mundo de hoje, mais do que em quaisquer outras épocas, inunda os nossos sentidos com mensagens que buscam capturar a nossa atenção.

É um verdadeiro bombardeio de mensagens de pessoas e organizações que procuram se distinguir, divulgando suas mensagens que buscam ser percebidas.

Uma parte destas mensagens é feita por profissionais competentes, em outras reina o mais absoluto amadorismo.

O amadorismo é tanto, que uma página, que eu tenho no sítio da Merkatus, para que as pessoas se comuniquem com a minha empresa solicitando informações, já foi utilizada mais de uma dezena de vezes por pessoas que aproveitaram o meio para fazer “propaganda” do seu negócio.

Lógico, eles esperam, com esta invasão, fazer algum negócio, vender, enfim.

Este amadorismo e misto de boa vontade, persistência e falta de conhecimento – que beira a teimosia – inunda as caixas de mensagens de todo internauta que tem algum tempo de uso do seu endereço de e-mail.

É mais ou menos assim, traçando um paralelo, alguém chega à sua casa, sem pedir licença entra em seu quintal, abre a porta da sua casa e apresenta o que ele quer vender, como se nós tivéssemos autorizado a entrada dessa pessoa.

Essas pessoas não querem saber se estamos ocupados, se estaremos receptivos à mensagem que ele quer nos trazer, eles simplesmente arrombam a porta da nossa casa, por e-mail, por telefone, pessoalmente, e passam a sua mensagem, como se nós tivéssemos tempo e interesse no que ele nos traz...

Essa intromissão, na sua grande maioria, não é bem vinda, vem em momentos não apropriados, e apresentam resultados mínimos, frente aos esforços despendidos.

Eles não fazem estatísticas para medir os resultados e a produtividade da sua forma infantil de se mostrar e de fazer negócios. Antes de tudo, mostram e demonstram uma ação antiprofissional, amadora, depondo contra a própria empresa.

Você contrataria uma empresa que age assim? Que empresas contratariam empresas que se utilizam desses expedientes?

No entanto, nós, consumidores e cidadãos, continuamos a ser bombardeados por mensagens não solicitadas, na maioria dos casos, indesejadas, e em quantidades cada vez maior.

Isso leva a um estresse que faz com que cada vez mais as pessoas não tenham mais paciência, faz com que as pessoas se distanciem dos meios que usam essas práticas invasivas.

Qual será o limite e quem ganhará essa luta indesejada?

Alguns indicativos – tendências? - mostram que as redes de relacionamento formam-se e têm um papel importante nas comunicações de hoje, para uma parte da população, pois estas redes facilitam colocam em contato pessoas com afinidades, que comunicam-se entre si, naquilo que julgam importante, significativo.

Além deste aspecto das comunicações com significado, significado e relevância ditados por aqueles que pertencem aos grupos de relacionamentos, fazendo circular e se propagar aquilo que têm significado e importância para o grupo, esses grupos tendem a dar crédito, a ter confiança naqueles que partilham e compartilham informações.

Esse aspecto é bastante importante: os compradores que pertencem a redes de relacionamento dão crédito aos seus parceiros, tendo mais confiança neles e dando mais crédito ao compartilhamento de informações do que às propagandas institucionais.

As propagandas não solicitadas, então, estão em um nível muito mais baixo, o nível do lixo eletrônico. E, você, XPTO, e eu sabemos, há quem as usa, ainda!

As redes sociais permitem não somente que se compartilhe informações, mas que se busque confirmação das informações, selecionando as fontes confiáveis.

Desta forma,são as pessoas que controlam as mensagens, o que é escutado, lido, percebido como relevante é repassado, o resto é somente isso: RESTO!

Desta forma de nada adianta passar 1.000.000 de e-mails com a sua oferta, se essa sua mensagem não tiver algo que o público, para o qual ela é dirigida, perceba como importante.

Para a sua comunicação ser relevante algo simples, lógico e prático precisa ser feito, muito embora não seja visto assim, pois continuamos, diariamente, recebendo mensagens sem o mínimo de significado para nós, não é mesmo, Ludmila?

Esse algo simples, lógico e prático é falar do que o cliente julga relevante, jamais do que a sua empresa faz...

Esse é um assunto que já tratamos, quase de forma exaustiva:

- você fabrica geladeiras, seus clientes procuram conservação de alimentos;

- você é um consultor de marketing, seus clientes procuram mais e melhores clientes;

- você tem uma empresa de contabilidade, seus clientes procuram segurança fiscal e minimização de impostos;

- você tem uma loja de informática, seus clientes procuram ampliar horizontes e a diminuir as incertezas no mundo da informática;

- você é um médico, seus clientes procuram saúde e qualidade de vida.

Se você comunica aos seus clientes o que você faz, você não é percebido, lido, escutado e repassado, você não passa de mais um na multidão, um mero centro de custos.

Se você comunica o que os seus clientes querem, desejam, você pode ser escolhido por ter a solução que eles buscam.

O que você faz não é importante para os seus clientes, é importante para os seus clientes aquilo que ELES OBTÊM através do que você faz!

E sabedor disso a sua comunicação com o mercado muda, e muda radicalmente.

Ao invés de se preocupar em seu extensivo, mandar milhares de e-mails, escrever mensagens que sejam relevantes para grupos de pessoas. Ou seja, focar o interesse dos grupos ou segmentos.

É isso ou não ser ouvido...

E você? Comunica o que você faz, ou o que os seus clientes obtêm através da sua empresa?

Tuíte patrocinado surpreende Coca-Cola

Cris Simon - Exame.com
São Paulo -  O modelo de publicidade recém lançado pelo Twitter acaba de alcançar um impressionante número, talvez o que faltava para mostrar que o "Promoted Trends", alternativa comercial do site, deu certo. Uma campanha da Coca-Cola chegou a 86 milhões de impressões nas primeiras 24 horas no ar, isso com um engajamento de 6% dos usuários. Isso significa uma média de 3,6 milhões de impressões por hora no primeiro dia.
A estratégia da Coca-Cola foi comprar a hashtag #WC2010, relacionada à Copa do Mundo da África. Com isso, qualquer pessoa que colocar o termo na busca do Twitter vai ver no topo da página de resultados um tweet da Coca-Cola. No post patrocinado, a marca divulga o link para seu perfil no YouTube.
O sucesso da campanha faz sentido. Além do ótimo timing, já que o tweet patrocinado foi publicado logo após os jogos do Grupo C da Copa, que classificaram os EUA e a Inglaterra, a integração entre os recursos de "Promoted Tweet" e "Promoted Trending Topic" garantiram mais visibilidade ainda.
Outro fator que influenciou foi a relevância do conteúdo oferecido pela Coca-Cola. A marca é patrocinadora oficial da Copa do Mundo, então relacionar a hashtag #WC2010 ao seu nome faz sentido. A Coca-Cola voltou todos as suas ferramentas de marketing para a Copa, criando conteúdos especiais em todos os seus perfis online, além das frequentes campanhas offline.
Além da Coca-Cola, a Starbucks e a Disney também já patrocinaram Trending 
Fonte: http://info.abril.com.br/noticias/corporate/tuite-patrocinado-surpreende-coca-cola-28062010-45.shl

quinta-feira, 24 de junho de 2010

7 perfis de tendência de consumo.


Observatório de Tendências da Ipsos detalha o comportamento das pessoas

Por Bruno Mello, do Mundo do Marketing 


Detectar e entender as aspirações humanas da sociedade pós-moderna e como essas motivações e desejos se refletem nos rituais de consumo não é tarefa fácil. O Observatório de Tendências Ipsos capta as tendências de consumo nas principais capitais do mundo, identifica e analisa movimentos e fenômenos observados em nível macroeconômico, político e social e seus reflexos no consumo, no comportamento, nas manifestações culturais, na arquitetura e na propaganda.

Publicamos a seguir os sete perfis de consumo elencados pela empresa de pesquisa na íntegra. “As sete tendências revelam um mundo em busca de composição”, aponta Clotilde Perez, Coordenadora Geral do Observatório. Esta composição passa por um eixo formado por ambiguidade, leveza, sonsoralidade, por um mundo edulcorado e reticular.

1. Go Bubbles
Tudo ao mesmo tempo e agora: a ideia quase mágica tornou-se uma condição para quem quisesse pertencer ao mundo globalizado. A ausência de limites tinha sua contraposição: se por um lado o indivíduo dispunha da possibilidade de acesso praticamente irrestrito às informações e contatos, por outro, ele também tinha que estar disponível e atento a tudo para poder acompanhar esse novo ritmo. Logo os efeitos colaterais começaram a ser percebidos. A percepção de excesso, a sensação de sobrecarga dava sinais desde as primeiras ondas do Observatório.

Hoje não há mais ambivalência: “o mundo é assim”. Ninguém mais se pergunta se é bom ou ruim ter internet, ter acesso à tecnologia... São as consequências do convívio com a primeira geração de nativos digitais!

Como a globalização e a vida sem fronteiras não foram alcançadas, o mood agora é considerar o mundo, mas não é necessário estar lá... O tempo agorista ainda é um valor. Mas a aldeia global adquiriu dimensões mais modestas, ainda que múltiplas. Estar “conectado” não significa, necessariamente, estar ligado a tudo o que acontece no mundo o tempo todo. Filtrar, selecionar e bloquear informações possibilitou limites. Conexão, interatividade, multiplicidade estão mais voltadas aos microcosmos, e são assim melhor administradas. Estas são as principais marcas da Tendência Go Bubbles “conexão no microcosmos”.

2. HiperSense
O desejo pela intensidade, surpreender e ser surpreendido, arriscar-se, ousar, sair do lugar comum, fazer algo diferente – peculiaridades tipicamente humanas – foram aguçadas pelos efeitos de massificação e da pouca diferenciação da era global.

Desde as primeiras ondas deste Observatório foram observadas diferentes formas de buscar uma emoção mais intensa: do desafio físico, que fazia subir a adrenalina nos esportes radicais, passando pelo exibicionismo, pelo voyeurismo, até a invasão do fetichismo.

Essas manifestações continuam, mas surgiram formas mais elaboradas de se fazer notar e de sentir. Muitas vezes associadas a mensagens edificantes: minar preconceitos, atenuar tabus, manifestar uma ideia... A ênfase agora está em despertar os sentidos de maneira inusitada, ilusionar, misturar, sobrepor os sentidos. Estas são as marcas da Tendência HiperSense “maximização dos sentidos”.

3. Venus Fever
A discussão sobre os papeis sociais tradicionais do homem e da mulher já não ocupa mais destaque. Nota-se que a questão saiu do debate público e está mais evidente no âmbito privativo – cada um se acerta com seus pares. Nas ondas anteriores, a mulher estava mais presa aos poderes que conquistou, enquanto o homem aparecia mais perdido, sem um papel muito definido. Estavam todos carentes de modelos. Neste momento fica evidente que há certa parceria e flexibilidade.

Um caminho sem volta. A mulher não será mais a antiga “Amélia” e não se sente mais tão ameaçada pela perda de suas conquistas. Pode transitar mais naturalmente entre possibilidades: ora ocupando uma posição de mais liderança, ora compartilhando, sentindo-se frágil e pedindo proteção, ou até mesmo servindo ao marido e aos filhos. Da mesma forma, o homem é também mais livre para circular: mais sensível, vulnerável, parceiro e também pode ser mais viril, rústico...

Hoje, é a ideia de “compor” está no centro das atenções. O caricato, em qualquer sentido que seja, não tem mais espaço. Estas são características da tendência Venus Fever “He, she, it: a composição como possibilidade”.

4. Living Well
Bem estar é o foco da tendência Living Well. Na onda anterior já observávamos a diminuição das cobranças e estávamos mais livres das exigências sociais, o que deu o tom do “bem estar possível”, com forte conexão extra-corpus.

Agora identificamos duas vertentes a partir de um conflito: Finitude ou Longevidade? “Tem que ser hoje, porque pode acabar amanhã. E tem que ser todo dia, porque pode durar 90 anos”. Diante dessa dicotomia evidenciamos por um lado forte valorização do momento presente. Cuidar de si é mais possível do que cuidar do planeta ou dos problemas de ordem mundial. Por outro lado, evidencia-se mais preocupação com o futuro, com manifestações de generosidade, de dedicação aos outros, de ajudar, contribuir... Afinal vamos viver muito... A linguagem edulcorada e a generosidade são algumas das marcas da Tendência Living Well “bem estar necessário”.

5. ID Quest
Nas ondas anteriores do Observatório, a tendência ID Quest revelava uma maior valorização da memória afetiva, dos registros pessoais e da busca por proteção nas redes de segurança tradicionais. Na atualidade ID Quest tem importante destaque: buscar as raízes para saber quem eu sou – e eu sou um mosaico.

Amigos pessoais são mais valorizados, mesmo que o contato com eles seja mais virtual do que físico. Momento de crise financeira também intensifica a necessidade de contatos mais sólidos e verdadeiros do que a ampla gama de desconhecidos. Sente-se também certo remorso, culpa por ter se distanciado durante certo tempo dos laços afetivos mais reais.

São evidentes manifestações claras de busca afetiva, como design de época, objetos do passado, colecionismo em alta, remakes de filmes e peças de sucesso, renascimento das mascotes de marca e criação de novas, valorização das histórias de vida, os pets e a sedução pela eternidade. Tudo em busca de uma relação mais emocional e mais afetiva como possibilidade de constituição da própria identidade, ainda que esta identidade se forme na composição.

É preciso respeitar o mosaico de si mesmo, privilegiar cada pedacinho de si. Essas são algumas das características da Tendência ID Quest “patchwork identitário”.

6. My Way
A tendência My Way apresentava-se em ascensão na onda anterior: a indústria a serviço da customização com possibilidades cada vez mais fáceis e acessíveis de se diferenciar; a indústria favorecendo a customização. Agora o foco passou a ser no indivíduo e em tudo que lhe agrada e singulariza. Não queremos apenas personalizar: somos autores-atores prontos para performar.

Agora, as manifestações de individualidade estão também expressas na relação com o outro, na co-autoria, nos processos de co-criation, na colaboração. O exercício da criatividade está na capacidade de transitar por vários estilos, atitudes e comportamentos. Ser único e ser múltiplo é o tom de My Way, “protagonismo e criatividade”.

7. Know Your Rights
É a mais atual das tendências. Vem crescendo em cada onda do Observatório. Alicerçada no paradigma contemporâneo “consumir é existir”, com ramificações para o consumo crítico, ético e sofisticado, esta tendência agora dá sinais de fusão entre os eixos “crítico” e “ético”: repudia-se tanto o excesso do capitalismo e das grandes corporações, quanto a forma de produção. E também não basta aderir a produtos éticos se o consumo for excessivo.

Ética e estética aglutinam-se: “é feio jogar papel no chão”. Festa do consumo responsável, dia sem compras, loja gratuita, são exemplos claros dessas misturas. As manifestações de insatisfação, repúdio e até vingança contra organizações e marcas proliferam-se na rede.

Na vertente da sofisticação do consumo, notamos sinais do surgimento de novos significados para luxo: momento de mais moderação e controle e atenção ao que se mostra. A ideia de excessos pode comprometer a imagem pessoal. Marcas de luxo voltam-se para o core business em busca de segurança e manutenção das vendas. Estas são algumas das evidências de Know Your Rights “Consumidores complexos e críticos”.


Fonte: http://www.mundodomarketing.com.br/10,14652,tendencias-de-consumo.-conheca-7-perfis.htm






Nestlé, Kraft, Unilever, Danone, Avon e Sadia aderem a sampling inovador
Hypermarcas e Seara também estão presentes na Sample Central Brasileira

Por Bruno Mello, do Mundo do Marketing | 23/06/2010


O conceito de loja com produtos grátis para os consumidores e como fonte de pesquisa para a indústria chegou para ficar no Brasil. O sucesso pode ser medido pelos números que a Sample Central exibe mesmo antes de abrir as portas, no dia 29 de junho, em São Paulo. A primeira franquia da rede internacional já tem 16 mil pessoas cadastradas para experimentar 220 produtos que estão nas prateleiras da loja.

Nestlé, Kraft, Unilever, Danone, Avon, Sadia, Hypermarcas e Seara são as principais das cerca de 60 empresas que já adeririam ao formato “tryvertising”, do inglês try (teste) + vertising (advertisign, propaganda). Há desde café e adoçante até um test drive com um carro da Nissan, passando por chocolates, lasanha, desodorantes, cosméticos, camisinha, sopa, biscoito e sabão em pó.

O que estas marcas buscam é testar seus produtos de forma rápida e eficiente, o que vai de uma embalagem diferente até um novo sabor. É um modelo de sampling inovador porque, ao invés de simplesmente distribuir o produto, a indústria consegue saber exatamente o perfil de quem experimentou e se gostou ou não, uma vez que o consumidor cadastrado na Sample Central responde a uma pesquisa. Isso, com cerca de 500 amostras reais. Bem diferente de ações tradicionais que chegam a distribuir até um milhão de produtos e que demandam uma pesquisa maior sem a certeza de que a pessoa experimentou o produto.

Experimentação é seguida de compra
O projeto está sendo encarado como uma nova ferramenta dentro do mix de Marketing de algumas empresas. “O consumidor pode dar a sua opinião a partir de uma experiência igual a de compra”, aponta João Pedro Borges, Gerente-Geral da Sample Central Brasil. “Teremos aqui uma visão real de experiência de compra e de consumo”, diz Celso Loducca, um dos sócio da franquia brasileira. “Um dos focos principais é saber o quanto o produto gera interesse”, completa Nelson Marangoni , CEO do IBOPE Inteligência.

Para além da experimentação, o modelo também é próprio para que as marcas conquistem novos consumidores. “Setenta e seis por cento das pessoas que participam vão ao varejo e compram os produtos que experimentaram”, afirma Antony James, fundador e presidente Global da Sample Central. A loja é um grande laboratório. Serviços também estão sendo projetados para serem experimentados, como o Orby da Telefônica, uma linha telefônica voip com um dispositivo semelhante a um telefone touchscreen com aplicativos diversos.

Outra possibilidade é o teste de ações no ponto-de-venda. “Qualquer agência e qualquer marca pode desenvolver e avaliar aqui materiais de merchandising, embalagem e abordagem, pois simulamos um varejo também”, ressalta Fernando Figueiredo, Presidente da Bullet, outra empresa sócia da Sample Central Brasil, animado com o projeto. “O estoque está abarrotado de produtos e já tem até fila de espera”, ressalta.

Metas superlativas
De fato, há 20 empresas aguardando para terem seus produtos experimentados e avaliados. Muitas das metas para o primeiro ano já foram batidas e a expectativa de abrir mais uma loja ainda este ano é grande. O plano de ter cinco lojas em cinco anos, com um investimento de R$ 4 milhões no primeiro ano de operação, tem grande possibilidade de ser revisto para cima. Outro passo que ainda não está definido é o monitoramento da loja com câmeras que gravam a reação do comprador no ponto-de-venda.

O Marketing Digital e Viral é a grande aposta da Sample Central Brasil para conquistar “clientes” que pagam uma anuidade de R$ 15,00 para ter acesso aos produtos. Para a inauguração são esperadas cerca de três mil pessoas qu

Fonte: http://www.mundodomarketing.com.br/9,14697,nestle-kraft-unilever-danone-avon-e-sadia-aderem-a-sampling-inovador.htm


A Sample Lab é um conceito criado na Austrália, implantado pela primeira vez em Tóquio, no Japão, em julho de 2007. A grande inovação da empresa foi oferecer ao consumidor a oportunidade de entrar em contato com produtos, gratuitamente, e opinar sobre esses itens, antes que eles cheguem às prateleiras.trans Sample Center   Brasil ganha loja de produtos grátis
No modelo brasileiro, os clientes poderão levar para casa produtos de até R$ 100, além de experimentar, na própria loja, qualquer outro item que ultrapasse esse valor, sobretudo eletroeletrônicos e informática. Após a experimentação, os consumidores respondem a uma pesquisa online. As visitas à loja física da Sample Central serão agendadas pelo website da empresa e são ilimitadas, desde que não ultrapassem uma por dia. O feedback dos clientes permite acumular pontos em um programa de fidelidade, que pode gerar vantagens e prêmios. Para ter acesso aos produtos gratuitos da Sample Central é cobrada uma taxa simbólica anual de R$ 15.
Indústrias como Cadbury, Corona, Heinz, L´Oreal, Nestlé, Nintendo, Nissin, Panasonic, P&G, Sony e Unilever, parceiras do projeto japonês, apostaram no novo conceito e obtiveram resultados de vendas expressivos.
Anthony J James, fundador e presidente global da Sample Central, está confiante que a franquia brasileira produzirá bons resultados. “Estamos muito entusiasmados e honrados de levarmos a Sample Central ao Brasil. Tenho certeza que será um sucesso”, comenta o executivo.
A Sample Central espera contar com 40.000 cadastrados em até 12 meses e atrair empresas de diversos portes e de todos os segmentos do mercado. O business plan da empresa contempla a abertura de mais cinco lojas em outras capitais brasileiras, nos próximos anos.

Obs.: A primeira empresa a fazer deguistação de seus produtos foi a Samsung.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

TRABALHO Um começo porta a porta


Venda direta é opção para quem quer ingressar no mercado de trabalho e não tem experiência
Jovens em busca de uma porta de ingresso no mercado de trabalho esbarram no clássico obstáculo: falta experiência versus exigências do empregador. Para burlar esse impasse, a venda direta pode ser uma das alternativas mais acessíveis de se garantir uma fonte de renda e dar os primeiros passos.

Na contramão da crescente demanda por qualificação, há um aumento de interesse entre indivíduos na faixa etária dos 18 – idade mínima para cadastrar-se – aos 25 anos em se tornar revendedor de alguma marca. De acordo com Marcelo Zalcberg, vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (Abevd), as vantagens para os iniciantes são muitas:

– Não precisa de diploma, o investimento inicial é baixo, e o cadastramento é simples. Além disso, a pessoa costuma receber apoio, proporcionando mais que uma garantia de lucros, mas de aprendizado que poderá acompanhá-lo ao longo da sua carreira – diz Zalcberg, salientando que a atividade pode ser incluída como um diferencial no currículo.

Com foco em encontrar a melhor solução para atender às necessidades do cliente, empresas investem na capacitação dos vendedores. Segundo Rogério Minoru Suga, gerente de marketing da unidade regional sul da Natura, os treinamentos oferecidos aos consultores os habilitam a construir um ofício.

– A primeira vantagem de se trabalhar como consultor em empresas como a nossa é o suporte que damos para ele começar na atividade. Muitas das pessoas que hoje são nossos destaques em vendas começaram até não acreditando em si mesmas e aqui aprenderam a conhecer o seu potencial – diz Suga.

O empenho faz toda a diferença para quem escolhe a venda direta como primeiro trabalho, segundo Carla Marco, gerente regional de vendas sul da Avon. O novato recebe todas as ferramentas, é preparado para entender o produto, administrar o seu negócio e cuidar do pós-venda. Muitos descobrem uma veia empreendedora depois de iniciar as atividades, relata Carla. Ela própria, aos 45 anos, é um exemplo:

– Eu comecei como revendedora aos 17 anos, trabalhando com a minha mãe. Depois, passei a vender por conta própria, fui trabalhar internamente na Avon, me tornei gerente comercial, fui para a área de treinamento, (atuei como) gerente de vendas de Curitiba e agora da regional do sul.


maria.amelia@zerohora.com.br
MARIA AMÉLIA VARGAS


Colaboração: Ulda Agda

PEPSI x COKE - Anúncio que enfureceu a Coca Cola

Trade Marketing - O Repositor de Auto-Serviço.




 
O repositor de vendas
Um profissional que, além de evitar rupturas, é um dos principais
representantes da empresa no chão de loja

Por Denilson Cajazeiro

É comum associar a imagem do repositor em um supermercado com o trânsito de pesadas caixas de leite longa vida, sabão em pó,cerveja, arroz... Tudo bem, a associação não é de toda injusta. Porém, o trabalho desse profissional ultrapassa, e muito, o simples, ou não tão simples assim, vai-e-vem mexer. Ele não pode achar que algo vai cair, por exemplo. “Além disso, deve ser uma exposição atrativa”,ensina Andrade.
De acordo com ela, outro ponto que não se deve descuidar é o da conduta no dia-a-dia do trabalho. Evitar usar termos muito técnicos na hora de informar um cliente, atentar para a higiene pessoal e manter uma boa aparência, com uniformes limpos e bem passados, são requisitos recomendáveis. E, ainda, antes de começar o trabalho, é sempre bom dar um giro pela loja para saber o que há de novidade, onde estão os produtos, se algo está faltando. Só assim ele terá uma dimensão do trabalho naquele dia. “Um dos grandes problemas hoje é que alguns repositores não têm essa consciência de somar atributos técnicos com pessoais”, afirma. Não é o caso de Fabrício Teixeira, repositor do supermercado Super Nosso do bairro Buritis, em Belo Horizonte. Ele sabe muito bem que sua função exige muito mais do que colocar produtos na gôndola. “-Pegar uma mercadoria e botar na gôndola, isso até uma criança faz.Uma boa reposição inclui ser educado com o cliente, oferecer informações corretas, evitar falar alto e ser uma pessoa bem apresentável”,argumenta. De fato, essas habilidades, somadas aos conhecimentos técnicos, impulsionam o giro de qualquer produto.


Ruptura
Desde dezembro de 2003 na empresa, todas as manhãs Teixeira faz um passeio pelos corredores e verifica se há a necessidade de reposição. Quando há, corre no estoque da loja, busca a quantidade necessária e orienta o responsável para fazer o serviço. “Temos que ficar bem atentos ao depósito da loja para evitar a ruptura”. Para isso, Teixeira conta que faz um balanço diário dos produtos que apresentam muito giro.
No entanto, é bom ficar atento para os itens com pouco giro. Por não saírem muito, chamam menos a atenção e um descuido pode levar a rupturas.
Dentro do supermercado, o repositor precisa manter-se bem informado. Se o cliente perguntar “onde posso encontrar tal produto?”, ele deve indicar na hora. Uma pesquisa do Instituto Popai apontou que, no Brasil, 81% das decisões de compra ocorrem no ponto-de-venda, e uma informação mal passada pode espantar o consumidor. Informar-se sobre os produtos, a empresa, as normas e outras coisas relevantes para o seu trabalho é uma necessidade. 
 
Exposição
Os gerentes ou encarregados também devem indicar para os repositores como expor as mercadorias nas gôndolas e orientá-los acerca do layout adequado da loja. Essa definição do local dos produtos não pode ser aleatória. Dados como lucro, faturamento, margem, giro e estoque deve ser pesado na balança. O repositor pode não saber que um determinado item deve ser colocado de forma destacada, pois apresenta uma boa margem. Assim, cabe ao profissional da reposição acompanhar se o que foi definido está sendo colocado em prática. Contudo, o caminho pode ser o inverso. O repositor, por conviver diariamente com o cliente, muitas vezes conhece melhor qual a necessidade dele no que diz respeito à localização e ao giro de mercadorias. “Às vezes, ele nos orienta sobre gôndola e o depósito da loja. Além de evitar um dos maiores temores dos supermercadistas, a falta do produto na gôndola - a ruptura -, esse profissional precisa desenvolver uma série de ações para ser um bom representante da empresa no chão de loja. Segundo a consultora Simone Andrade, o repositor deve ser um gerador de vendas. Isso implica dizer que ele tem que desenvolver habilidades pessoais, como a capacidade de se comunicar bem, e adquirir conhecimentos técnicos sobre exposição, reposição e layout. “A reposição tem que ser feita de forma segura, de maneira que o cliente sinta-se à vontade para a falta de um produto, o excesso no estoque, a quantidade correta no momento de fazer uma oferta, ou ainda o posicionamento de um item na gôndola, decorrente de sugestões dos clientes”, afirma Dirceu Duarte Júnior, gerente do supermercado Mart Plus, no bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte.

Atenção ao fluxo
De acordo com o consultor Ronan Torres, a exposição do produto tem que levar em consideração os objetivos da empresa e o perfil do consumidor. Porém, é possível utilizar sempre a seguinte estratégia: produtos que geram uma boa margem de lucro no início do fluxo de clientes, logo em seguida os itens “vencedores”, ou seja, com boa margem e com bom giro, e, por último, os geradores de tráfego, que são os que saem bem. “Daí a importância de se ter uma análise do fluxo de clientes na loja, e o repositor pode ajudar nessa informação”. Ele explica que a exposição além de cuidar de itens como precificação, exposição correta, higiene do local, o repositor é um dos responsáveis por não deixar faltar mercadoria nas gôndolas. No dicionário varejista, essa situação recebe o nome de ruptura, responsável pela falta de sono de muitos supermercadistas. Ocorre que,quando se fala ausência de produto na gôndola, o repositor representa apenas alguns capítulos de um livro mais extenso. De acordo com o superintendente da Associação ECR Brasil, Cláudio Czapski, a ruptura está relacionada a uma série de fatores, como a demora no pedido de um produto, o atraso na entrega, falha no trabalho do repositor ou ainda o gerenciamento incorreto das informações no estoque. “É muito recorrente um produto ter dois registros no sistema. Issobagunça toda a gestão. Não existe uma loja no mundo com ruptura zero. As melhores performances são coisas de 4% do sortimento, e isso já é um show de bola”, aponta. Segundo pesquisa da ECRBrasil, em parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a ACNielsen, o índice médio de ruptura de itens é de 8%. O estudo mostra o nível de rupturas em uma cestacomposta pelas marcas líderes de vendas em sete setores (mercearia, bebidas alcoólicas, bebi das não-alcoólicas, higiene, saúde e beleza, perecíveis, limpeza e bazar) em lojas de auto-serviço, com cinco ou mais check-outs. Embora o universo pesquisado seja de supermercadistas das regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, o levantamento aponta dados que ser-vem para alertar supermercadistas de todo o País.Na análise do sócio-diretor da Prevents Consultoria, André Hori, para evitar a imprecisão das informações no estoque, um dos principais causadores da ruptura, alguns passos devem ser seguidos. Um primeiro é fazer um inventário preciso,com quantidades e categorias de todos os produtos constantes no mix de uma empresa. Em seguida, ajustar os processos operacionais. “Informar que uma mercadoria chegou que saiu que quebrou, ou está em determinado depósito, ou mesmo foi encaminhada de uma loja para outra”. Todas essas informações devem estar centralizadas e de fácil acesso para quem trabalha na área. Um terceiro, segundo Hori, é capacitar as pessoas envolvidas em todas essas etapas. Outras medidas, como a implantação de tecnologias, ou aparelhos de segurança, como o circuito interno de televisão, minimiza risco de rupturas. “O circuito fechado de TV, além de monitorar os corredores e evitar furtos, permite visualizar as gôndolas, mantendo-as bem arrumadas e agilizando a reposição”, avalia o gerente da Plastrom Sensormatic, Luciano Raposo.

Do estoque para o chão de loja
Agora, na hora do vai-e-vem entre a gôndola e o depósito da loja, muita coisa pode ser feita para não associar o trabalho do repositor com o trânsito de pesadas caixas de leite longa vida, sabão em pó, cerveja, arroz... Uma delas é não querer descer todo o estoque e colocar no chão de loja. As coisas podem ser realizadas passo-a-passo. Dessa forma, a imagem desse profissional estará associada à organização, beleza e qualidade nos serviços. Para Teixeira, o segredo é deter-minar a quantidade certa para abastecer a gôndola e buscar somente aquele volume. “Tem repositor que pensa em fazer uma viagem só. O correto é fazer aos poucos, na quantidade certa de cada produto. Se tiver um corredor inteiro, por exemplo, divida em dois. Nada de levar paleteiras para o meio da loja. Corre-se um risco de machucar o cliente, quebrar produtos, sem contar que estreita o corredor”. A paleteira é uma espécie de carrinho e, segundo ele, chega a carregar uma tonelada. “O ideal é levar os produtos em ‘gaiolas’ ou ‘pranchas’”, afirma. Vilmar Silva, repositor de mer-cearia do supermercado Guarim, no bairro Carlos Prates, em Belo Horizonte, conta que a primeira tarefa do dia é saber qual produto será preciso abastecer. Depois de buscar no depósito da loja, coloca no “cantinho” da gôndola, para não atrapalhar a circulação do cliente e nem atrapalhá-lo pegar a mercadoria. “Faço um empilhamento baixinho para evitar tombamentos e danificação de produtos, além de permitir que o consumidor visualize os preços”.De acordo com Vilmar Silva, se a gôndola está com pouca mercadoria e não há mais no estoque mesmo assim é possível deixá-la arrumada. Basta puxar os produtos para frente. “É importante tambémfazer o giro da mercadoria, ou seja, deixar mais visível e ao alcance do cliente aquele produto com o prazo de validade mais próximo”. Coisas rotineiras, que demandam, entretanto, um olhar atento não somente do profissional, mas também da empresa. 

A RUPTURA EM NÙMEROS:
528 itens foram pesquisados e representam 23,7% das vendas das categorias analisadas
8% é a ruptura média dos itens líderes

PRINCIPAIS CAUSAS:
27,5% - atraso na entrega do CD à loja
14,1% - Gôndola não reabastecida (produto está no depósitoda loja)
8,2% A central de compras está negociando com o fabricante
7,3% Erros de parâmetro do sistema de reposição
7,1% Erro de inventário (diferença entre físico e contábil)
FONTE: ESTUDO ACNIELSEN


DICAS PARA O BOM REPOSITOR
Priorizar e atender qualquer solicitação de cliente
Ter uma boa comunicação
Verificar se há preço em todas os produtos que estão na gôndola
Ao entregar diretamente ao cliente qualquer mercadoria, verifique se ela está bem limpa
Em caso de reclamação, ouvir com atenção e agradecer, informando que tais falhas serão corrigidas o mais breve possível.
Evite tentar justificar ou explicar o porquê de erros ou atitudes
Transmita segurança
Se vista adequadamente para o local de trabalho
Higiene e limpeza deve ser uma preocupação constante
Boa apresentação envolve também a “aparência interna”, pois o cliente gosta de ser atendido por pessoas bem humoradas e agradáveis.


O REPOSITOR DEVE EVITAR
Atender o celular no local ou horário de trabalho
Apoiar-se ou debruçar-se nos balcões, gôndolas, carrinhos ou mercadorias empilhadas
Fumar, mascar chicletes ou chupar balas
Cantarolar ou assobiar
Chamar consumidores ou mesmo o pessoal da loja em voz alta
Tratar o cliente ou colegas com intimidade, como colocar a mão no seu ombro, pegar na sua mão, puxá-lo pela roupa ou chamá-lo por “você”, “tio”, “amigão”, “chapa”, “velho”, “coroa”, “psiu”, “cara”, “meu”, etc.
Se exaltar ou responder às provocações
Falar gírias e usar termos técnicos
Provocar competição com outros (as) demonstradores(as).
Demonstrar má vontade no atendimento do cliente.
Adotar atitude displicente. Deixar de dar atenção, olhando para os lados e não para o cliente.


                                                                  + Mais Dicas: 




sábado, 19 de junho de 2010

A China sacode o mundo - James Kynge - Eleito o melhor livro de negócios pelo Financial Times (2006) - Livro delicioso de ler!



A China sacode o mundo

A china Sacode o mundo
James kynge
Editora Globo
ISBN 9788525043382 - Categoria ECONOMIA

As notícias sobre o avanço chinês não param de surpreender. Diariamente a imprensa internacional traz novidades sobre o “dragão” que dobra o tamanho de sua economia a cada seis ou sete anos. E que, com imenso apetite, compra insumos, pressiona preços dos produtos básicos, invade mercados de países industrializados e em desenvolvimento. Como entender uma nação que em duas décadas saiu da periferia para o centro das decisões globais? James Kynge, autor de A China Sacode o Mundo, que a Editora Globo acaba de lançar, é uma das pessoas mais qualificadas do planeta para dar essa resposta. Ele conheceu como estudante um país ainda fechado às idéias do ocidente e retardatário na corrida pelo progresso em 1982. Desde então, trabalhou 19 anos como jornalista na Ásia e tem a experiência de mais de uma década fazendo reportagens por todo o imenso e desigual território chinês. Ninguém acompanhou mais de perto as transformações econômicas, sociais e culturais que hoje colocam o país no centro das decisões mundiais.


Números da China:








Abaixo uma pequena degustação do livro:

O mar de guarda-chuvas de Xangai A pressão populacional molda a vida chinesa. Ela determina que a máquina econômica não pode parar, sob o risco de o governo perder o "mandato dos céus" que assegura sua legitimidade e permanência
O trem ficou parado durante muito tempo na estação de Chongqing e, quando finalmente partiu, parecia engatinhar, de modo que o movimento era quase imperceptível. Eu me sentei, como tantas vezes antes, olhando pela janela e pensando no tamanho e na complexidade do país que desfilava do lado de fora. O cenário natural muda, mas em qualquer direção, durante a viagem, uma coisa é constante. Gente. Sua presença e seu peso estão por toda parte. Mesmo nos espaços entre as fábricas, cidades e aldeias, pode-se ver gente indo de um lado para outro em bicicletas, tratores, carroças, ônibus, carros e trens. A pressão da população é tal que as menores porções de terra cultivável no alto de platibandas, nas montanhas e à margem das estradas são usadas para plantio. Nessa viagem, como em muitas outras ao longo dos anos, fiquei pensando como a presença penetrante do povo na China deu forma à experiência do país e moldou a consciência nacional. Eu me lembrei de uma moça que conheci cerca de 18 anos antes, em Tóquio. Filha de um funcionário de alto escalão em Pequim, ela fora mandada ao Japão para estudar o idioma. Conhecemo-nos numa virada de estudo, numa escola noturna. Uma noite, depois das aulas, nossa conversa se voltou para o Grande Passo à Frente, os três anos de caos inspirados por Mao Tsé-Tung que resultaram numa fome da qual se calcula que pelo menos 30 milhões de pessoas tenham morrido. "Foi bom que eles morreram", disse ela. "Há gente demais na China."
A China não vive apenas de explorar mão-de-obra barata. Suas universidades formam mais gente que os EUA
Do ponto de vista econômico, a população é o paradoxo mais básico da China. Ela é ao mesmo tempo sua maior força e sua fragilidade mais grave. Um estoque humano sem paralelos permite que o país assuma as características de diversas nações ao mesmo tempo. Seu imenso manancial de mão-de-obra industrial de baixo custo faz inveja a todo o mundo desenvolvido, e, no entanto, a China não é apenas uma gigantesca instituição exploradora de mão-de-obra. Universidades no continente produzem mais gente formada a cada ano que os Estados Unidos. Embora apenas uma fração da população possa atualmente ser chamada de consumidora, a promessa de um vasto mercado interno fica mais real à medida que a classe média (estimada entre 100 milhões e 150 milhões de pessoas em 2004) está em expansão. De qualquer modo, a história recente provou que é a perspectiva de um mercado maior, mais que sua existência, a chave para a atração de investidores estrangeiros. Entretanto, essa força fica um tanto prejudicada pela opressão dos números.




Produção de chá em Anxi A industrialização chinesa se alimenta de mão-de-obra barata, tecnologia de ponta ocidental, crédito abundante e, não menos importante, do enorme mercado criado pelo maior e mais rápido processo de urbanização da história
As crianças de Mao
Embora a China esteja atualmente na iminência de ultrapassar o Reino Unido como quarta maior economia do mundo, sua renda per capita está ainda entre as das nações mais pobres do mundo, com pouco mais de US$ 1 mil por ano. Mesmo que o produto interno bruto um dia se torne tão grande quanto o dos Estados Unidos, a matemática simples determina que seu povo, nesse momento, será em média apenas um sexto tão rico quanto os norte-americanos. Em taxas relativas atuais de crescimento, o tamanho da economia chinesa irá se equiparar à dos Estados Unidos poucos anos antes de 2040. Mas nessa época, também, as crianças da explosão populacional de Mao, nos anos 1960, 1970 e início de 1980, estarão se aposentando.
Na verdade, em 2040, cerca de um terço da população de então ou aproximadamente 400 milhões de pessoas estará com idade acima dos 60 anos. Pode ser que a China fique velha antes de ficar rica. Entretanto, o obstáculo mais importante causado pela população é uma variante do desafio que os imperadores, desde tempos imemoriais, tiveram de enfrentar (e o fracasso de Mao foi notável). No passado, o equilíbrio pelo qual todas as dinastias lutavam era entre a quantidade de alimentos e a quantidade de bocas, mas os 25 anos de desenvolvimento podem ter banido esse conceito para sempre. O equilíbrio crucial hoje em dia é entre pessoas e empregos, e até agora se mostrou esquivo. Mesmo quando a economia cresce 9% ou 10%, ela fracassa por uma margem de vários milhões na criação dos 24 milhões de empregos necessários todos os anos. Desse modo, enquanto o resto do mundo pensa que a China está gozando de uma espantosa prosperidade, os funcionários que trabalham por trás dos altos muros de seu recinto fechado em Pequim se sentem presos em uma infindável crise de empregos.
Isso cria uma pressão inflexível por crescimento que influencia qualquer plano e estratégia econômicos e pode deixar Pequim com pouco espaço para acordos nas deliberações com parceiros comerciais. Dificilmente uma semana se passa sem algum incidente trabalhista ou social em algum lugar do país, e algumas dessas explosões são sérias. Se a taxa de crescimento caísse dramaticamente, essas convulsões certamente iriam se intensificar. Como gostam de dizer os economistas em Pequim, a China é como um elefante numa bicicleta. Se for mais devagar, cai, e aí, a Terra poderá tremer.
A pressão da população se combina com outros aspectos da vida no país para criar a característica mais destacada da China corporativa. O principal deles é uma tendência, entre as companhias, de continuar produzindo, ou até de expandir a produção, muito depois de já ter desaparecido qualquer margem de lucro discernível. Esse comportamento, em parte, pertence à atração hipnotizadora de tentar ganhar uma fatia maior do mercado de "1 bilhão de consumidores", mas isso não é tão simples assim. A questão é de importância fundamental, no entanto, porque ajuda a demonstrar por que a maior parte dos produtos manufaturados na China sofre de excesso crônico e, por extensão, por que tantos deles são extraordinariamente baratos. Qualquer fabricante escolhido aleatoriamente poderá esclarecer as causas por trás desses diversos fenômenos. Antes de deixar Chongqing, entrei outra vez em contato com a Lifan Motorcycle, uma companhia que eu andava acompanhando havia alguns anos. Quanto mais sabia a respeito dela, e sobre as proezas de seu notável fundador, Yin Mingshan, mais passava a encará-la como um estudo de caso, sobre como os fabricantes chineses muitas vezes conseguem obter preços um terço, ou 40%, ou até mais baixos que seus concorrentes no exterior.


Bicicletas na cidade de Jianin O meio de locomoção mais popular da China vem sendo substituído rapidamente por motocicletas e automóveis, cujos preços despencaram graças à soma de tecnologia ocidental, mão-de-obra barata e pirataria
De preso a empresário
A carreira de Yin, como a de muitos empresários que se fizeram sozinhos, passou longe da trajetória ortodoxa. Foi preso em 1961 por atividades "contra-revolucionárias", um dos tipos de crime de definição mais vaga, e no entanto dos mais sérios. Sua atividade empresarial começou quando ele saiu da prisão. "Era como se a coisa que eu mais temesse estivesse atrás de mim. Minha paciência tinha sido treinada, e meu julgamento estava claro", disse Yin na primeira vez em que o vi.
Não foi fácil, no entanto, para um ex-presidiário com mais de 40 anos e sem experiência de trabalho encontrar emprego. Mas, do mesmo modo que para muitos empresários dos anos 80, as poucas perspectivas de emprego de Yin acabaram sendo uma bênção. Ele teve permissão para começar um negócio particular vendendo livros e teve bom lucro. No final da década, sua fortuna pessoal era muito maior que a daqueles que tinham permanecido na folha de pagamento do Estado. Além disso, conseguia perceber para que lado o vento soprava. Ele tinha notado que as pessoas adoravam bicicletas, deleitando-se com as menores diferenças: um selim coberto de xadrez, um tipo novo de campainha ou uma bola de pêlo de coelho na extremidade de um chaveiro. Percebeu que a sociedade inteira se debatia em meio às amarras do igualitarismo. As bicicletas motorizadas seriam a grande coisa a seguir, exatamente como nos dias iniciais da decolada industrial japonesa. Em 1992, ele vendeu seu depó­sito de livros e levantou US$ 15 mil para estabelecer a Chongqing Hongda Motorcycle Fitting Research Institute, uma empresa de oito pessoas, incluindo sua mulher e filho.
A palavra "Hongda" no nome dessa empresa não era um erro. Era uma declaração de intenções. Yin queria construir uma empresa de qualidade mundial. Buscava imitar o sucesso das grandes empresas japonesas Honda e Yamaha e expulsá-las do mercado chinês. Uma vez feito isso, ele as ultrapassaria no mundo exterior. Mas de algum modo teria de sair de sua oficina suja de graxa, no subúrbio de uma cidade secundária em ruínas, até conseguir desafiar as motocicletas de marcas reconhecidas mundialmente. O tempo era curto.
A palavra "Hongda" do nome da empresa de motocicletas não era um erro. Era uma declaração de intenções
Tanto a Honda como a Yamaha estavam vendendo bem na China, construindo sua reputação e seu status. Yin adotou o que lhe pareceu ser o único caminho viável: copiou projetos e roubou tecnologia. Os motores Yamaha tinham então se tornado disponíveis localmente, depois de um acordo assinado entre a companhia japonesa e a Jianshe Industrial, uma velha firma de armamentos que apenas 40 anos antes fabricava metralhadoras e canhões para resistir ao cerco na guerra contra o Japão. Como parte do acordo de licenciamento, foram estabelecidas oficinas locais de manutenção e reparos com acesso à gama inteira de peças de reposição da Yamaha e o know-how para consertar os defeitos. Yin foi a essas oficinas, comprou as peças e conseguiu dicas dos mecânicos que ali trabalhavam. Dentro de alguns meses de engenharia reversa, tinha construído uma réplica de motor Yamaha.
"Para começar, copiamos inteiramente as coisas dos outros", disse ele. "Em 1994, fabricamos nosso próprio motor pela primeira vez. Não era uma cópia. Em 1995, fabricamos três de nossos motores. Os japoneses jamais imaginaram que os fabricantes tradicionais chineses fossem desenvolver-se tão rapidamente. Eles ficavam bem distantes e eram condescendentes, como os norte-americanos antes de Pearl Harbour."

Mas, na realidade, havia pouco que os japoneses pudessem fazer. Restrições governamentais significavam que a Yamaha, a Mitsubishi e a Honda não tinham a liberdade de estabelecer suas fábricas onde quisessem; deviam formar joint ventures com parceiros escolhidos para eles pelo governo. Foi-lhes dito também que teriam de transferir tecnologia para seus parceiros como taxa de ingresso num vasto mercado potencial. Além disso, era indefinido o controle que teriam sobre o marketing e uma rede de fornecedores. Mas a tentação de 1 bilhão de chineses trocando suas bicicletas por motocicletas parecia sobrepujar as dúvidas. A Yamaha entrou direto, criando uma joint venture meio a meio com a Jianshe, uma típica criação do planejamento socialista que tinha 18 mil trabalhadores na folha de pagamento e outros 35 mil com pensões ou de algum modo dependentes da fábrica. Todos os dependentes deviam ser pagos com a renda corrente, porque o conceito de fundos de pensão não existia na China no início dos anos 90. A tomada de decisão na fábrica era difusa e obscura, e qualquer iniciativa se tornava custosa. Entretanto, esses problemas, embora espinhosos, empalideciam junto à questão da propriedade intelectual.

A fábrica deixava vazar seus segredos industriais mais do que peneira. Fornecedores de componentes, que supostamente tinham de ser discretos e leais, na verdade se envolveram num incrível comércio, vendendo peças a falsificadores pelas portas dos fundos. A Yamaha achou difícil saber como lidar com a seriedade do problema até que lançou, em 1955, seu modelo principal, a Jinbao de 100 cc e motor de quatro tempos, depois de anos de preparação. Aí o horror revelou-se por inteiro. Poucos meses depois do lançamento, réplicas exatas eram fabricadas em 36 fábricas no país. O pior de tudo era que, embora as cópias fossem quase idênticas, eram vendidas por cerca de 6 mil renminbi cada uma, contra os 18 mil renminbi que a Janshe-Yamaha cobrava pela Jinbao.
Em meados de 90, a pirataria se tornara um fenômeno comum demais. Uma vez infectada a indústria, a doença espalhou-se como um vírus pela cadeia de valores e pulou de empresa a empresa. Nos primeiros anos do século 21 ela era endêmica, não mais uma desvantagem periférica à comercialização, mas um fato que quase todas as companhias, em praticamente todos os setores, eram obrigadas a considerar ou enfrentar. Diversas estimativas calcularam que empresas norte-americanas, japonesas e européias podiam estar perdendo mais de US$ 60 bilhões por ano com a pirataria chinesa de um ou outro tipo. Por necessidade, esses cálculos são aproximados, mas se chegassem a ser exatos significaria que a perda das companhias ocidentais por roubo de propriedade intelectual era muito maior que o fluxo total de investimento direto estrangeiro na China. Em 2004, por exemplo, o investimento estrangeiro chegou a US$ 66 bilhões.

As falsificações são trágicas, cômicas ou as duas coisas ao mesmo tempo. Tacos de golfe têm sido amplamente pirateados, mas com graus variados de sucesso. Um saco de tacos de aparência impressionante pode custar menos de um décimo de seu preço nos Estados Unidos ou na Europa, mas alguns quebram no meio de uma tacada, soltando a cabeça atrás da bola gramado abaixo. Outras falsificações são ainda mais perigosas. Chaleiras explodem, transformadores elétricos entram em curto-circuito, remédios não têm efeito, pastilhas de freio falham, bebidas alcoólicas envenenam aqueles que as ingerem, e leite em pó falsificado teve o efeito de matar vários bebês de fome.

Para muitas empresas estrangeiras, no entanto, o problema não são tanto as falsificações de baixa qualidade quanto a réplica fiel com a qualidade do original. Fora as motocicletas, a indústria de automóveis apresentou um evidente estudo de caso para esse tipo de abuso.
A Chery Automobile não existia quando a Volkswagen, a líder do mercado, lançou seu Jetta, um carro popular, no final dos anos 90. Mas 33 meses depois de começar do zero com uma nova companhia na cidade de Wuhu, nas margens do Rio Yang-Tsé-Kiang, a Chery tinha feito seu primeiro carro, um sedã de quatro portas chamado Chery, que apresentava uma semelhança mais do que casual com o Jetta, na época o carro mais vendido na China. Imediatamente se levantaram suspeitas, em parte porque o principal investidor da Chery, a Saic, era parceira numa joint venture com a Volkswagen, e em parte porque um dos principais executivos da Chery fabricava o Jetta na China para a Audi, subsidiária da Volkswagen. A empresa alemã deu início a uma investigação e descobriu suas peças originais dentro do Chery. Escreveram e falaram com executivos da Chery, que pertence ao governo municipal de Wuhu, e por fim a companhia chinesa concordou em não usar mais peças originais.
Meses depois de começar do zero sua fábrica, a chery fez um sedã igual ao jetta, da volks, carro mais vendido da China
Seja qual for a interação entre certo ou errado, o resultado comercial da pirataria é sempre o mesmo: rápida destruição de valor de um grande leque de produtos manufaturados. Isso não vale só para artigos estabelecidos, mas também para novas tecnologias; e a prova de uma incessante derrubada pode ser encontrada tanto em exemplos individuais como em preços agregados de itens manufaturados desde 1998.
Independentemente do crescimento acelerado na economia mais vasta, ou da inflação predominante, medida por índices amplos, como o Índice de Preços ao Consumidor, os preços médios de produtos manufaturados caíram ano a ano. Em alguns casos, o declínio foi significativo. Uma televisão de tela plana de 29 polegadas, que custava 6 mil renminbi em 1998, estava saindo por pouco menos de 2 mil renminbi no final de 2004. Telefones celulares de tela colorida eram um produto novo, da moda, em 2001, e tinham preço correspondente, em torno de 6,5 mil renminbi; no final de 2004, eles eram comercializados por menos de 2 mil renminbi .
Marcas domésticas de aparelhos de DVD, todos configurados para funcionar com DVDs falsificados, chegaram ao mercado em 1998 a 3 mil renminbi , mas custavam cerca de 500 renminbi no final de 2004. Caixas de configuração que permitem aos espectadores acesso à televisão por satélite começaram a ser vendidas por cerca de 2,3 mil renminbi em 2000, mas estavam saindo a mais ou menos 700 renminbi em fins de 2004. Cada um desses produtos representava uma nova tecnologia estrangeira que, uma vez introduzida na China, sofreu rápida destruição no valor, em parte pela pirataria.
O problema, no entanto, como Yin começava a descobrir no final dos anos 90, era que a pirataria tinha uma maneira de se virar contra aqueles que antes tinham prosperado com ela. Sem a existência de barreiras tecnológicas e com capital livremente disponível, apareciam cada vez mais fabricantes de motocicletas, cada um seguindo a trilha que Yin tinha estabelecido. Em 1998, havia mais de mil fábricas de motocicletas na China, produzindo cerca de 15 milhões de unidades por ano, 5 milhões a mais do que era vendido. Na medida em que as motocicletas não vendidas enchiam os depósitos, declarou-se uma feroz guerra de preços, até que qualquer margem de lucro foi completamente obliterada. Mas os grandes jogadores, ainda paralisados por um vasto mercado em potencial, recusaram-se a alterar suas estratégias. Liang Xueben, o gerente-geral da Jianshe-Yamaha, me disse que naquele ano ele tinha o compromisso de conservar a fatia de mercado. Apenas 3% dos chineses possuíam motocicletas, disse. Um dia o mercado iria decolar e haveria lucros espantosos. A Yamaha não podia se dar ao luxo de ceder terreno para concorrentes domésticos agora em surgimento.
Oito anos mais tarde, o esperado boom nas vendas ainda não se tinha materializado, e o problema do excesso de produção era mais agudo do que nunca. Yin estava desiludido. Quase todo o valor tinha sido arrancado da indústria, e ele começou a dizer, meio de brincadeira, que logo estaria começando a vender motocicletas a quilo, como porcos. "O preço de venda do nosso modelo mais barato é 25 renminbi por quilo. Isso é um pouco mais que o quilo do porco vivo", disse um de seus representantes, Yang Zhou, durante outra de minhas visitas à fábrica. Uma comparação mais pertinente, no entanto, pode ser com o custo do metal e de outros componentes que integram a fabricação de uma motocicleta. Com preços de venda em torno de 2,5 mil renminbi, uma motocicleta custa só um pouquinho mais que seu valor como sucata; os outros insumos, como engenharia, mão-de-obra, custos de desenvolvimento, marca, distribuição, a experiência e a visão dos executivos da empresa, são classificados como sem valor. "É claro que isso não é saudável. É uma concorrência maligna", diz Yang.


Prédio residencial em Xangai A rápida urbanização da população chinesa alimenta as duas pontas do mercado interno: fornece a mão-de-obra que as empresas necessitam e cria milhões de novos consumidores para casas, móveis, eletrodomésticos...
Não há lei de falência
Em uma economia de mercado normal, as empresas não podem continuar vendendo abaixo do custo durante anos. Os bancos começam a se preocupar com a capacidade que elas têm de pagar as dívidas e acabam por retirar os empréstimos. Mas a China não tem uma economia de mercado normal. Ela não tem uma lei de falência vigente, de modo que a insolvência das companhias é difícil. Além disso, os bancos estão nadando em liquidez; o povo chinês poupa uma média de 40% de sua renda, e o suprimento de dinheiro na economia é bem acima do dobro do produto interno bruto anual.
Isso significa que os bancos muitas vezes têm mais depósitos que tomadores de empréstimos, e portanto são menos vigilantes quanto a retirar empréstimos suspeitos. Fora isso, há outros interesses. Um banqueiro sênior de província do Banco Industrial e Comercial da China, o maior banco do país, me disse que a precipitação de uma falência com a retirada dos empréstimos de uma companhia insolvente era contra os interesses do banco. O efeito dominó seria palpável, já que os fornecedores da companhia também seriam afetados, disse ele. O desemprego aumentaria, provocando potencialmente uma queda no consumo e pondo em perigo a estabilidade social. "É muito melhor esperar a próxima virada no mercado que provocar um colapso no sistema inteiro", disse o banqueiro. A onipresença dessa atitude é revelada por um nível extremamente baixo de falências empresariais chinesas, segundo os padrões internacionais.
Essa peculiaridade leva a outra, moldada em parte pela sempre presente atração de vender para o mítico "bilhão". Sob condições de economia de mercado, quando uma companhia tem de enfrentar excesso de produção daquilo que fabrica, ela em geral vende suas ações. Mas, na China, isso só acontece raramente. Uma reação mais comum é continuar produzindo na mesma velocidade, ao mesmo tempo que se olha em torno em busca de outro setor industrial no qual diversificar. Em uma viagem ao delta do Rio Pérola, fui visitar o maior fabricante mundial de fornos de microondas, uma companhia chamada Galanz. De lá, fui um pouco além, até Midea, um dos maiores fabricantes mundiais de aparelhos de ar-condicionado.
As duas companhias eram exemplos clássicos de seu tipo. Cada uma começou como uma modesta oficina no início da década de 80, fabricando produtos que pareciam protótipos vindos da Revolução Industrial. No caso da Midea, foi um pequeno ventilador elétrico, cujas lâminas tinham sido moldadas a golpes de martelo sobre uma bancada de madeira pelo presidente da companhia (o objeto agora está em exposição numa caixa de vidro, no museu da empresa). Mas por ocasião de minha visita, em 2001, os dias de glória da liderança patriarcal tinham terminado, e as duas companhias haviam caído num lodaçal de excesso de produção. Suas margens de lucro afundavam rapidamente, e os executivos de cada uma delas reconheceram que a outra operava com prejuízos. Mas a reação a essa difícil situação me surpreendeu. A Galanz, a fabricante de fornos de microondas, resolveu expandir para aparelhos de ar-condicionado, e a Midea, a fabricante de aparelhos de ar-condicionado, resolveu entrar na fabricação de fornos de microondas. Não importava que a demanda nacional por aparelhos de ar-condicionado estivesse atrás da oferta em 10 milhões de unidades, e que os fornos de microondas também fossem produzidos em excesso.
Perguntei a Yu Yaochang, vice-presidente da Galanz, como os bancos estavam dispostos a apoiar uma diversificação desse tipo. "A única preocupação dos bancos é se a nossa companhia está crescendo e ficando mais forte. Se você expande a produção, está aumentando a escala e reduzindo o custo unitário. Isso é maior e mais forte. E, de qualquer modo, somos a maior companhia local. Se eles não emprestarem para nós, vão emprestar para quem?" Esse raciocínio ajuda a criar a característica mais visível da economia chinesa: a de que há, de quase todos os produtos manufaturados (cerca de 90%, no final de 2005), excesso crônico.
Desse modo, quando a margem de lucro da fábrica de motocicletas Lifan se comprimiu, a reação de Yin não foi recuar, mas atacar. Ele diversificou para fabricar ônibus, água mineral, solvente de tintas, vinho importado, jornais, jaquetas de plumas de pato e um bem-sucedido time de futebol chinês que trazia o nome da companhia. Ele andara lendo os livros de gerenciamento escritos por Jack Welch, então CEO da General Electric, cuja fotografia pode ser vista na capa de traduções piratas do livro, vendidas pela China inteira. A diversificação, disse ele, ajuda uma companhia a superar as quedas no ciclo dos negócios. Entretanto, ficou claro que, para manter vivo seu núcleo de negócios de motocicletas, ele teria de encontrar uma nova fonte de renda e fazer as vendas crescerem. A resposta era evidente: exportação. Qualquer companhia que pudesse sobreviver no caldeirão da competição chinesa certamente teria uma chance no estrangeiro.
Seu campo de batalha escolhido foi o Vietnã, onde a Lifan deu de cara com a Honda. A fatia de mercado da companhia japonesa era em torno de 70% no território vietnamita quando a Lifan fez suas primeiras incursões, mas Yin tinha a óbvia vantagem do preço. Seu subterfúgio inicial era oferecer motocicletas que pareciam praticamente idênticas às da Honda mas custavam um terço do preço. Esta se provou uma atração poderosa, e dentro de três anos a Lifan tinha deixado sua rival para trás.
As companhias japonesas são conhecidas por financiar suas investidas nos mercados de exportação cobrando mais caro por seus produtos em casa do que no estrangeiro. As corporações chinesas fazem exatamente o contrário. Muitas delas, inclusive a Lifan, exportam como um meio de se manter bem em casa. Yang Zhou, representante de Yin, diz que as margens de lucro sobre as motos vendidas na África, no Irã e na América Latina podem chegar a 10%, em alguns casos, enquanto as margens de lucro na China são extremamente pequenas ou negativas. Na Nigéria, por exemplo, a companhia consegue vender por 6 mil renminbi uma moto que sai pela metade desse preço na China.
Em uma economia de mercado normal, empresas não podem vender abaixo do custoe por anos. Na China, elas podem
Minha viagem de Chongqing acabou em uma estação terminal da Revolução Industrial da China, um lugar onde acabam centenas de milhares de produtos feitos em fábricas como a de Yin. A cidade chamava-se Yiwu. Apenas 15 anos atrás, essa cidadezinha no meio da província de Zhejiang, no litoral leste da China, se distinguira um pouco além da estranheza de seu nome. Yiwu significa "corvo leal", mas quando você pergunta ao pessoal do lugar por que, recebe uma gama de respostas diferentes. De qualquer modo, ninguém parece dar grande importância. Há muita coisa acontecendo. Em menos de duas décadas, ela se transformou de um sonolento lugar atrasado em um dos lugares mais movimentados do país. Embora continue pouco conhecida fora da China, Yiwu passou a ser o maior mercado atacadista do mundo.
A escala do lugar é estonteante. Cerca de 34 mil estandes estão, um seguido do outro, em um vasto hall, e vendem aproximadamente 320 mil tipos diferentes de produtos. Quase todas as categorias de itens manufaturados feitos nas fábricas dos deltas dos rios Pérola e Yang-Tsé-Kiang estão à venda, em hangares que cobrem uma área de 1,5 mil hectares. Amigos chineses insistiram que eu visitasse Yiwu para me maravilhar com os preços. Eles me disseram que se pegássemos o preço das melhores pechinchas no mercado mais barato de Pequim e o dividíssemos pela metade, chegaríamos perto do custo de compra das mesmas coisas em Yiwu.
Lá, caminhei algumas centenas de metros até chegar a um shopping que vendia acessórios de moda. A primeira loja anunciava bolsas de couro feitas na Itália pela famosa marca Gucci. Custavam US$ 11 cada uma, mas, disse o vendedor, sempre se pode barganhar um pouco. Perto, havia três lojas em fila. Uma se chamava YSL, outra LYS e a terceira, SYL. Todas tinham na parede uma grande fotografia de um jovial Yves Saint-Laurent com sua marca registrada, os óculos de aros grossos.
Em outro canto, havia estandes com cópias da Lacoste, mais uma vez, todos próximos uns dos outros. Uma das marcas se chamava New Crocodile, outra, Crocodile of the Yangtze, uma terceira, Crocokids, e a última, Croc Croc. Entrei em uma delas e perguntei à vendedora se os produtos verdadeiros da marca Lacoste eram vendidos em sua loja ou na França. "O crocodilo francês e o crocodilo chinês são a mesma marca. Houve uma fusão", disse-me. Depois fez um gesto desdenhoso para as lojas rivais em torno. "São todas falsificações, é fácil perceber."
Trecho da muralha da China Erguida 4 mil anos antes de Cristo para deter os bárbaros, hoje a muralha delimita um país cuja influência econômica transbordou de suas fronteiras e ameaça transformar o resto do mundo, para o bem e para o mal
Em Yiwu, dava para vislumbrar a fonte do fenômeno das lojas de descontos que varre o mundo desenvolvido. Meia hora de caminhada pelos cavernosos salões de exposição era suficiente para destruir qualquer mistério de como Wal-Mart, Target, Home Depot, Tesco, Metro, Carrefour, Lowe's, Best Buy, Royal Ahold e diversos outros varejistas de descontos conseguem oferecer artigos tão baratos. Na verdade, comecei a ficar impressionado, não com a capacidade que tinham de dar descontos, mas com a habilidade em se sair bem ao cobrar pesados aumentos sem reação dos consumidores. Todas as grandes lojas de descontos recebem sua mercadoria da China, e todas devem sua alta classificação na categoria de 500 maiores corporações do mundo em parte pelos gordos lucros que ganham com essa aquisição.
Esperava-se que a aquisição total de artigos no atacado por varejistas estrangeiros alcançasse US$ 60 milhões em 2006, de acordo com estimativas oficiais chinesas. Se fizermos a suposição altamente conservadora de que esses artigos são vendidos no mundo desenvolvido pelo dobro do custo de aquisição, então parece que pelo menos a estonteante quantia de US$ 120 bilhões em mercadorias, obtidos nas lojas de desconto européias e norte-americanas, vem da China.
Yiwu é o ponto para o qual convergem as energias coletadas com a transformação industrial da China. A presença projetada pela China mundo afora origina-se primariamente nas forças simbolizadas por Yiwu. Isso acontece porque, ao longo da história, os grandes desvios no equilíbrio global de poder e na hierarquia das nações têm sido acompanhados ou, muitas vezes, precedidos por um conjunto de sinais de novos preços.

Várias das condições de ascensão da China atual espelham as dos Estados Unidos na segunda metade do século 19. A transformação de Chongqing se assemelha à de uma Chicago jovial, e a construção da infra-estrutura chinesa é uma réplica da dos Estados Unidos, tanto em conceito como até em alguns detalhes. Mas também o movimento dos filhos e filhas de agricultores para as fábricas ao longo do litoral ecoa a migração em massa dos jovens da Europa para o Novo Mundo, há cerca de 150 anos. Novas tecnologias de comunicação, nos Estados Unidos de século e meio atrás, eram as ferrovias - na China de hoje, são a internet e a digitalização. Os fluxos internacionais de capital e experiência, da Grã-Bretanha para os EUA, no século 19, e, na era moderna, das nações industrializadas para a China, lubrificam o processo de mudança.

Mudanças na hierarquia das nações são antecipadas na história por alterações de preços industriais
Naquela época como hoje, as mudanças nos preços eram precursoras das transformações econômicas, políticas e sociais que estavam por vir. O período de 1873 a 1900 é conhecido como a era da "explosão deflacionária", porque os preços dos itens agrícolas e manufaturados caíram em praticamente todos os Estados Unidos. A abertura das pradarias à agricultura fez o preço dos grãos despencar em todo o mundo desenvolvido. Mudança semelhante atingiu a indústria. Andrew Carnegie, o barão industrial dos EUA que nasceu na Escócia, levou uma nova tecnologia para o aço, chamada conversor Bessemer, da Grã-Bretanha para os Estados Unidos, assim como Shen Wenron transportou a usina da Phoenix da Alemanha para a China.
De 1872 até 1898, os preços do aço Bessemer caíram 80% nos Estados Unidos, e Carnegie comentou profeticamente: "A nação que fizer o aço mais barato terá outras nações a seus pés". Realmente, a indústria britânica teve dificuldades em se ajustar aos inexoráveis ciclos de deflação dos produtos manufaturados, e muitas companhias faliram. .
No entanto, o padrão de vida melhorou para a maior parte do povo britânico por causa do nítido aumento no número de artigos importados baratos.Um século mais tarde, é a China que exporta a deflação em produtos manufaturados, e são os norte-americanos e os europeus que cada vez mais vivem com a ajuda de uma cornucópia de produtos made in China. Isso parece constituir, inequivocamente, o sinal de um começo de mudança na distribuição geopolítica do poder.